

E-commerce de cabelo branco:
idosos aderem à onda das compras virtuais
Dafne Martins
Marcella Blass
Sentado ali em frente ao computador que acabará de comprar, seu Alfredo se sentia encorajado. Depois de algumas pesquisas no Google e um treino intensivo para tentar decorar a ordem das letras no teclado, o avô de três netos estava determinado a comprar um rádio novo para seu o Chevrolet Opala.
Era o fim dos jogos de dominó às terças e quintas-feiras. Seu Alfredo se cadastrou no PayPal, fuçou no Reclame Aqui e agora faz questão de deixar comentários agradecidos em toda compra que completa em suas lojas virtuais preferidas.
Seu Alfredo é só a ponta de um ice Berg que é muito mais profundo do que se pode imaginar. Cheios de energia, os que já passaram dos 60 anos têm aumentado sua participação no ambiente digital de forma que a presença ultrapassou as redes sociais e chegou às compras online. E não é de se estranhar esse comportamento, afinal, quem não se renderia a facilidade, segurança e agilidade de entrega do comércio eletrônico?
Não acredita? Um estudo realizado pela IInterativa, agência de soluções digitais da Infobase, prova. A pesquisa constatou que 45% dos idosos brasileiros já fazem compras no ambiente digital.
Avanços tecnológicos, hábitos mais saudáveis e o aumento da renda têm tornado a terceira idade mais – e por muito mais tempo – economicamente ativa. Para se ter uma ideia, o consumo entre pessoas com mais de 50 anos foi de quase 1 trilhão de reais, segundo estudo feito pela consultoria de geomarketing Escopo.
Com a expectativa de vida lá em cima, é natural que a população jovem chegue a casa dos 60 anos muito mais conectada. “Desse modo, essas pessoas chegarão a terceira idade muito melhor preparadas para acessar os meios eletrônicos, e-commerces e assim por diante”, explica Gilson de Lima Garófalo, do Sindicato dos Economistas de São Paulo (SIDECON-SP). Fato que pode ser economicamente interessante a médio e longo prazo.

E-commerce especializado
Esse mercado não deve ser ignorado por empresas que pretendem colher bons frutos no futuro. Para sair na frente da concorrência, é preciso ficar de olho nesse consumidor virtual e se a adaptar a esse novo perfil.
Edilson Osório é CEO da Darunni Heltcare, empresa especializada em soluções para qualidade de vida e bem-estar das pessoas que alcançaram a terceira idade. De olho nesse mercado há um bom tempo, o empreendedor desenvolveu o terceiraidade.com, maior marketplace brasileiro especializado no ramo.
Lançado em 2013, o terceiraidade.com é um e-commerce 100% especializado em produtos geriátricos e ortopédicos, um verdadeiro shopping para idosos, cuidadores e casas de repouso. Seu Alfredo apoia a ideia. “Esse é nosso negócio, fazer tecnologia e trazer comodidade para a terceira idade”, firma o fundador.
Em pouco mais de dois anos, o empreendedor já vê resultados animadores no percentual de compras feitas pelos próprios idosos. “Temos o costume de achar que filhos e netos são quem fazer as compras online para seus pais ou avós, mas a história muitas vezes é outra”, conta Osório.
Cerca de 40% das vendas feitas no terceiraidade.com são feitas por pessoas com mais de 55 anos, o que mostra uma espécie de independência. Junior comenta que os idosos têm cada vez mais o costume de pagar seus próprios boletos ou manter uma conta ativa em sites de pagamento online como o PayPal.
Tem demanda, SIM!
Seja jovem ou idoso, as pessoas têm procurado maneiras de simplificar a vida e gerir o tempo da melhor forma possível. “A característica que chama a atenção nas compras online é o fato de poderem ser feitas a qualquer hora do dia, com um leque imenso de produtos e oportunidades de comparação de preços, coisa que não tem no shopping, por exemplo”, destaca Garófalo.
Antenada e fã de e-commerce, Miriam Lourenço, 69 anos, destaca a facilidade e principalmente a falta de tempo de ir até a loja para pesquisar e comparar preços com suas características preferidas nas compras online. Ela costuma fazer pedidos pela internet duas vezes ao mês e destaca a possibilidade de comprar artigos que não são vendidos no Brasil e o preço baixo como as grandes vantagens das lojas de comércio eletrônico.

Especialista nos hábitos de consumo da terceira idade, Osório garante que esse público tem um interesse ainda bastante profundo em conhecer mais detalhes do que está comprando. Essa é a deixa para os e-commerce investirem em descrições e resenhas de produtos bem produzidas e detalhadas para conquistar a confiança e fidelizar o idoso.
Sem tabu
Felipe Morais, coordenador do MBA de e-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia, comenta que o idoso já tem se interessado em procurar alternativa para aumentar a visualização no navegador e fazer pesquisas para entender melhor o ambiente de compras online.
O gatilho para esse mercado decolar é mudar a forma como a sociedade enxerga as pessoas nessa faixa etária. O cenário positivo e o interesse
Junior garante que o mercado para a terceira idade é uma tendência a médio e longo prazo. Caminho sem volta e setor crescente, apesar de todo o seu potencial, a situação ainda é precária porque o brasileiro tem a cultura de negar a velhice e julgar a terceira idade como um tabu.
Por causa desse cenário, não se vê uma adaptação do mercado, mas sim um grande envolvimento por parte da terceira idade para tentar se inserir.
só provam que enquanto se oferece qualidade de vida para esse público, mais elesse manterão ativos e comprando.
Maurício Ventura, gerontologista, garante que é cada vez mais comum o interesse da terceira idade pela tecnologia, principalmente para aqueles que são mais autônomos. Ele conta que há muito estímulo, os idosos não querem ficar isolados de amigos e parentes distantes, então, eles aprendem a usar a internet.
Geração X
Não é segredo que o mercado digital está mais acostumado com o consumidor jovem, prático e despreocupado. E ai que está a principal diferença com relação ao perfil do comprador idoso: a facilidade nata para a tecnologia. “Os mais jovens já nasceram inseridos na onda da internet, TV a cabo, smartphones, o que facilita seu aprendizado”, explica Morais. Parte da terceira idade, mesmo conectada, ainda tem mais familiaridade com a tecnologia da TV e rádio.
Mais do que uma mesa cheia de relatórios, estatísticas, café e suor, o simples estudo das gerações pode ajudar os empreendedores a adaptarem seus negócios. A geração Z é a dos “nativos digitais”, familiarizados com a internet, enquanto a Y cresceu junto com todos esses avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Mas quem tem história para contar é mesmo a geração X. Mais velha, foi ela que viu surgir todas essas tecnologias nas quais os mais novos já nasceram inseridos.
Anos de diferença e realidades distintas certamente foram responsáveis por fazer com que cada tipo de consumidor tenha expectativas diferentes na hora da compra. “O comprador da geração X é que o vai até a padaria e conversa com o padeiro, ele tem necessidade de entrar em contato com quem lhe presta um serviço”, explica Osório. Assim, se a empresa fisga esse cliente logo no atendimento, é venda certa e ele irá procurar pela marca sempre, independentemente do preço que ela cobrar.

A terceira idade é muito mais cautelosa e precisa que a loja virtual esteja presente e o ajude a identificar a melhor opção de compra para sua necessidade. Por isso, é preciso oferecer um atendimento ativo para garantir que ele consiga completar sua compra.
Segundo Ventura, o idoso não é diferente de qualquer outra pessoa, só possui mais idade e requer uma atenção especial por não ter contato com a tecnologia desde cedo. Isso significa que eles buscam nesse novo ambiente facilidade de acesso, simplicidade, comandos autoexplicativos e letras grandes o suficiente para facilitar a leitura.
MODO DE FAZER
Futuro
Esse mercado é uma tendência, um destino sem volta. O CEO da terceiraidade.com garante: em um futuro próximo, quem não se adaptar perderá faturamento. “Empresas que não estiverem prontas abrirão mão de um público que compra cada vez mais”, garante. Não ficar atento a essa antiga geração que se adapta cada vez mais às tendências modernas é deixar escapar um negócio promissor.
Para o gerontologista, qualquer coisa que mantenha o idoso ativo é importante para que ele se sinta útil e parte de algo maior. Estar preparado e disponível para a terceira idade é uma tendência ainda tímida que aos poucos vem ganhando espaço. E ai, vai ficar de fora?
Apesar da praticidade, comodidade e promoções fáceis que a internet oferece, fazer compras online demanda certas precauções. Para não cair em armadilhas de pessoas mal-intencionadas e proteger dados pessoais e seu computador, basta seguir algumas dicas simples que o Terceira Geração te dá agora: