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DESTAQUES

Capacidades Cognitivas são   afetadas pela tecnologia

Carina Cristofoli

Thaiane Andrade   

 

Em 1870, um homem de 33 anos se deparou com uma situação de total falta de concentração. Muito ocupado, esse homem passava o dia trabalhando e indo de um emprego ao outro. Ele também tinha uma forte apreciação por escrever e enviar mensagens para inúmeras pessoas por meio de um telégrafo, grande tecnologia de comunicação da época. Apesar de possuir uma inteligência acima da média, o homem encontrava grandes dificuldades até mesmo para se concentrar na leitura de um livro inteiro. Este homem se chamava Thomas Edison e ficou mundial e historicamente conhecido por ser o inventor da lâmpada.

Aos 33 anos, Edison enfrentava problemas básicos de cognição. Quando percebeu que seu transtorno era a falta de concentração, fechou-se em seu escritório e focando em um problema de cada vez, patenteou, a partir daí, mais de 2 mil invenções. O relato sobre o brilhante inventor está em uma edição de 1910 do jornal The New York Times.

Essas pesquisas

diriam que boa parte das pessoas não passarão muitos minutos nesta página. A maioria dos leitores utiliza como padrão de leitura na Internet o “scanning” – ato de passar os olhos pelo texto em busca de palavras-chave interessantes – e não a leitura linear, como habitualmente fazemos com livros e revistas.

Antigamente, essa era uma técnica usada para textos mais longos, mas com o uso constante das tecnologias, o scanning agora é utilizado tanto online quanto offline. 


Nos acostumamos a “escanear” qualquer texto, por causa da overdose de informações com a qual nos deparamos na Internet.

Embora não diagnosticado, ele parecia estar sofrendo com um mal que afeta milhares de pessoas atualmente: Sua capacidade cognitiva estava sendo afetada pelo uso constante de tecnologias.

 

As questões são estudadas a sério por pesquisadores de áreas como antropologia e psiquiatria. Muitos desses profissionais acham que a Internet nos faz pensar mais rápido e de modo não-linear; outros, mais pessimistas, dizem que a tecnologia está nos tornando viciados em estímulos e incapazes de processar grandes blocos de informação, e recomendam mais calma.

Porque como contamos, quem nunca se pegou com dezenas de abas do navegador abertas ao mesmo tempo, cada uma com um conteúdo diferente?

 

A ascensão da tecnologia (incluindo aqui seus aparatos e meios) fez com que a sociedade mudasse seu modo de pensar e agir e nos tornou, sutilmente, dependentes desses mecanismos físicos e mentais.

 

Diversos estudos na área educacional e tecnológica, acusam a tecnologia de ser o agente causador da alteração de fatores cognitivos de crianças, jovens e adultos – memória, concentração, capacidade de interpretação, raciocínio e lógica.

 

"Os superficiais"

Circulando por artigos e pesquisas sobre o tema, em determinado momento eu percebi que estava com uma página de internet com 10 abas abertas. Dessas 10 abas eu tentei me lembrar do tema central exato de apenas 3. Não consegui. Percebi que eu não absorvia de fato o que estava lendo, pois era uma enxurrada de dados e informações. Quase nada era processado, tão pouco armazenado por muito tempo. 


 Foi exatamente o que sentiu e descreveu o escritor americano Nicholas Carr, 56, em seu livro The shallows – What the internet is doing to our brains (Os superficiais – O que a internet está fazendo com nossos cérebros, ainda sem tradução no Brasil). Carr sentiu que algo estranho estava acontecendo com ele há pelo menos cinco anos.

incontrolável, diz ele. “Sentia que estava forçando meu cérebro a voltar para o texto”, afirma. “A leitura profunda, antes tão natural para mim, tinha se transformado numa luta.” 

 

Essa declaração é justamente a que abre o livro de Carr. Nele o autor faz uma acusação bastante séria: a exposição constante às mídias digitais está mudando, para pior, a forma como pensamos. Ele e uma porção de autores renomados acreditam que, por causa do uso excessivo de computadores e de outros aparelhos digitais, nosso cérebro é alterado e estamos nos tornando menos inteligentes, mais superficiais e absurdamente distraídos – se pensarmos bem, o contrário de tudo aquilo que nos tornou a espécie mais bem-sucedida do planeta Terra.

Nesta obra, Nicholas Carr afirma que as pessoas estão ficando mais burras, e que a culpa é da internet. Segundo ele, as pessoas têm acesso quase ilimitado à informações na grande rede, mas perdem a capacidade de focar em apenas um assunto. A mente do internauta está caótica, poluída, impaciente e sem rumo, e Carr faz um manifesto destacando a importância da calma e do foco.

O escritor sentia que sua ansiedade disparava diante de qualquer tarefa que exigisse concentração. Em diversos momentos, dava por si procurando a tela do computador ou do celular. O impulso de espiar na internet? Era quase 

 Carr é um leitor insaciável assumido, ou pelo menos costumava ser, até perceber que já não era capaz de se concentrar na leitura como antes.

Alterações Cognitivas

 Por outro lado, a tecnologia se tornou uma aliada, nas mesmas questões cognitivas e proporções neuropsíquicas, para os idosos.

 

Analisando nosso cotidiano e o significado literal da palavra tecnologia, percebemos que esse conceito abrange técnicas utilizadas desde os primórdios da pré-história. Desde o invento mais impactante como a roda, o rádio, ou coisas simples e indispensáveis como o guarda-chuva, o zíper ou o vidro.

O contato com a tecnologia e interação pode estimular centros do cérebro que controlam decisões e raciocínio, explica o professor e neurologista da Universidade Federal de São Paulo, Deusvenir de Souza Carvalho.

 

Partindo daí, afinal, a tecnologia é um benefício ou um maleficio? Afeta o cérebro humano positiva ou negativamente? Qual é a linha que separa a tecnologia de um problema para uma solução?

Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, tecnologia nada mais é do que “um conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade”. 

 

Tecnologia

O neuropsicólogo e professor universitário, Bernardino Fernández Calvo, diz que o uso das novas tecnologias tem um impacto exponencial em nossas habilidades cognitivas.

A estimulação multissensorial associada ao uso das novas tecnologias conduz a uma nova forma de processar a informação em relação a gerações anteriores

Com o uso das tecnologias, nós somos forçados a aumentar a capacidade cognitiva e ampliar as nossas conexões cerebrais e o nosso raciocínio lógico. 

 

Ok, mas afinal? Faz bem ou faz mal?

 É o que nós veremos agora. De ponto inicial, sabemos que a tecnologia afeta determinadas pessoas de maneira positiva e outras de maneira negativa e muitos desses fatores causam alterações na nossa cognição. Os principais são o tempo de uso e a idade de quem utiliza essas ferramentas.

 

Existe, no entanto, algo que precisa da atenção de todos nós: a tecnologia está nos tornando viciados em estímulos e incapazes de processar grandes blocos de informação.

Alterações Cognitivas

Uma pesquisa realizada em oito países europeus constatou que o uso indiscriminado de tecnologias digitais enfraquece a memória de jovens e adultos.

 

O levantamento, realizado pela empresa de cibersegurança Kaspersky Lab e divulgado pela BBC, constatou que as pessoas vêm recorrendo a computadores e dispositivos móveis para guardar novas informações em vez de usar o próprio cérebro.

 

Com o avançar da idade, algumas capacidades cognitivas funcionam de formas diferente. A memória é uma coisa muito independente de nível cultural ou de classe social, sua função é a capacidade de reter e armazenar informações.

 

Uma pessoa de quinze anos tem um bom método de reter informações, porém este processo será muito mais lento à uma pessoa de 50 anos ou mais. As informações continuam presentes no cérebro porém haverá um intervalo maior para localizá-las.

 Para o Doutor em Informática na Educação e mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Adriano Pasqualotti, “Dentro da estrutura cognitiva neurológica, o cérebro é completamente influente, ele permite sempre aprender. Essa característica de evolução permite que em qualquer momento se insira na vida da pessoa uma nova aprendizagem”.

 

O especialista diz, porém, que o problema está na forma como utilizamos a tecnologia, pois hoje não há a aprendizagem e sim há a facilidade de permitir que está o aprenda por nós.

Um exemplo básico utilizado por Pasqualotti é o uso da calculadora e da tabuada; do corretor automático e da conjugação de verbo. Nas salas de aula, os alunos são ensinados num primeiro momento a desenvolver seu raciocínio por meio de mecanismos de decoração, cujo conhecimento só se dá com a prática do exercício e com o processo da construção manual.

 

O doutor explica que do ponto de vista das teorias epistemológicas - ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento humano –, muitas vezes nós voltamos à necessidade da operação do objeto, para obter essa aprendizagem especifica.

 

Complicado, não é? Isso significa que na teoria da aprendizagem, nós precisamos da prática constante e manual para adquirir a informação, – como o exercício da tabuada e da conjugação de verbo –  ou seja, a ‘decoreba’ se torna extremamente importante no momento da aprendizagem e do conhecimento.

Alterações  nos idosos

A doutora psicóloga e autora do estudo sobre o uso do virtual para avaliação e reabilitação cognitiva de idosos, Irani Argimon, conta que ao longo do avanço da idade percebemos dificuldades na capacidade atencional, na memória recente e na velocidade de processamento. “Contudo”, afirma, “a memória de longo prazo, assim como a memória de procedimentos e o vocabulário tendem a não apresentar alterações.”

 

Na ciência ainda há grande discussão do porquê isso ocorre. É possível que modificações cerebrais próprias do envelhecimento (redução de massa branca e cinzenta, por exemplo) sejam as responsáveis pela diminuição da capacidade cognitiva.

 

Irani explica que a ocorrência, bem como a intensidade dessas alterações, depende de idoso para idoso. “A reserva cognitiva – a resistência da mente às lesões no cérebro – reúne diversas atividades que ao longo dos anos realizamos e que atuariam como um ‘fator protetivo’ para o desenvolvimento de quadros neurodegenerativos”.

 

Dentro dessas reservas cognitivas, podemos usar como exemplo a aprendizagem de uma segunda língua, atividades físicas, alimentação adequada, maior escolaridade, envolvimento em atividades intelectualmente estimulantes e no convívio social.

Episódios de esquecimento costumam acontecer por diversos motivos, como por exemplo o estresse e o acúmulo de atividades. “Quando desempenhamos diversas atividades ao mesmo tempo e estamos sobrecarregados de informações somados a demais fatores estressores do ambiente, o cérebro descarta as informações desnecessárias no momento”, declara a pesquisadora na área de Fundamentos de Enfermagem e Gerontologia, Thiara da Cruz.

 

O estresse é uma das causas da alteração cognitiva e um dos resultados do uso constante de tecnologias. De acordo com o neurologista da Universidade Federal de São Paulo, Deusvenir de Souza Carvalho, o estresse tem três fases fundamentais: Em um primeiro momento, ele causa um alerta diante de uma situação estressante, ou seja, uma demanda limite. Em seguida, usa um período intermediário reduzindo sua capacidade.

 

A doutora psicóloga e autora do estudo sobre o uso do virtual para avaliação e reabilitação cognitiva de idosos, Irani Argimon, conta que ao longo do avanço da idade percebemos dificuldades na capacidade atencional, namemória recente e na velocidade de processamento. “Contudo”, afirma, “a memória de longo prazo, assim como a memória de procedimentos e o vocabulário tendem a não apresentar alterações.”

 

Na ciência ainda há grande discussão do porquê isso ocorre. É possível que modificações cerebrais próprias do envelhecimento (redução de massa branca e cinzenta, por exemplo) sejam as responsáveis pela diminuição da capacidade cognitiva.

 

 

Irani explica que a ocorrência, bem como a intensidade dessas alterações, depende de idoso para idoso. “A reserva cognitiva – a resistência da mente às lesões no cérebro – reúne diversas atividades que ao longo dos anos realizamos e que atuariam como um ‘fator protetivo’ para o desenvolvimento de quadros neurodegenerativos”.

 

Dentro dessas reservas cognitivas, podemos usar como exemplo a aprendizagem de uma segunda língua, atividades físicas, alimentação adequada, maior escolaridade, envolvimento em atividades intelectualmente estimulantes e no convívio social.

 

 

Ao final dessa segunda fase intermediária, onde ocorre o esgotamento total das reservas cognitivas, pode resultar em uma disfunção e lesão. A disfunção é um nível recuperável, mas, se ocorre lesão pode ser uma situação menos reversível.

 

Quando se fala em sistema nervoso, toda anatomia e capacidade neuroquímica, possui um tempo para o sistema ser reproduzido, estocado, liberado, compactado e metabolizado.

Esse sistema tem que funcionar dentro de uma capacidade prevista. Caso não ocorra, em situações extremas, o uso excessivo da tecnologia pode trazer consequências graves

O profissional usa o sono como exemplo: Em um primeiro momento em que uma pessoa precisa dormir e mesmo assim não dorme, ocorrerá alterações de humor e concentração.


Em segundo, onde uma pessoa precisa dormir e não consegue ocorre falhas de raciocínio. Em um terceiro grau e em casos

mais graves a pessoa vai ficar "fora de orbita" e surtar, uma situação que se assemelha à psicose, ou seja, ocorre falha na competência de lidar com a realidade, e em longo prazo, reverter este quadro pode ser mais difícil.” conta o neurologista.

Envelhecimento e tecnologia

Quando falamos em tecnologia, cognição e idosos, a história é outra. O envelhecimento acarreta grandes alterações no sistema cognitivo. Tais mudanças podem afetar o funcionamento geral do Sistema Nervoso Central e outras produzem declínio localizado em estruturas neuronais específicas.

 

Resumidamente, nosso sistema cognitivo é enfraquecido pelo tempo. Estas alterações estruturais não afetam por igual todas nossas capacidades e enquanto algumas decaem muito com o passar dos anos, como a memória ou a atenção; outras, como a linguagem e a inteligência, ficam mais estáveis.

 Em um quadro demencial e degenerativo, cada pessoa possui suas peculiaridades do ponto de vista de doença. Na doença de Alzheimer, por exemplo: onde uma causa definida está longe de ser achada - a ideia é que os circuitos da fiticulina, que são circuitos colinezicos responsáveis pela capacidade de reter informações, estão disfuncionantes. Neste caso, medicações anticolinesteráticos, substâncias que evitam que a citicolina seja destruída de imediato, funcionam melhor, pois sofrem a ação da colinesterase, termo referente a duas enzimas capazes de hidrolizar acetilcolina para formar a colina e ácidos correspondentes.

Conforme vamos envelhecendo a capacidade (de reter novas informações, aprender, prestar atenção em informações simultâneas) diminui, devido à perda de neurônios. Essa perda, porém, não compromete a realização das atividades do dia a dia; se isso acontecer é preciso investigar junto ao profissional de saúde.

 

A tecnologia pode ajudar e muito na recuperação das capacidades cognitivas após de uma lesão cerebral. Entretanto, o grado de recuperação vai depender da causa que provocou a perdida cognitiva. No traumatismo craneoencefálico ou acidente acidente-cerebrovascular, por exemplo, a recuperação da função pode ser plena. Entretanto, nas demências não se pode recuperar uma função cognitiva perdida.

 

 A pesquisadora, Thiara da Cruz, declara que em qualquer fase da vida, o indivíduo que é submetido a novas atividades e habilidades, estimula o cérebro a aprender novos caminhos, fazendo uma reserva cognitiva. “Esta reserva é muito importante, principalmente para ser utilizada na velhice, quando há perda dos neurônios, ficando com a memória e o raciocínio mais lento.”

 

Lembrando que esse processo natural do envelhecimento não compromete a realização das atividades do dia a dia do idoso, apenas diminui a capacidade de reter várias informações ao mesmo tempo.

Prevenção  e Re-habilitação

O envelhecimento é um processo biológico natural, que pode perfeitamente ser controlado, de acordo com o neurologista da Universidade Federal de São Paulo, Deusvenir de Souza Carvalho. Daa mesma forma que a ciência já conseguiu combater muitas doenças que antes eram tidas como incuráveis.

 

A capacidade de manter a atenção – lembram do nosso amigo Edison? – faz com que o cérebro canse mais e a pessoa mantenha a atenção por um certo tempo, mas com o avançar da idade, essa capacidade de manter-se atento também diminui.

 

O lado bom de toda essa história é aquilo citamos anteriormente: Adquirir novas informações é um processo infinito, o cérebro nunca se cansa! Não temos um limite, nesse sentido. Uma mente saudável e funcionante pode e é capaz de aprender e adquire novas informações até o fim da vida.

De acordo com a doutora psicóloga e autora do estudo sobre o uso do virtual para avaliação e reabilitação cognitiva de idosos,  Irani Argimon, “No caso de softwares ou jogos desenhados para estimulação cognitiva em idosos, as tarefas foram elaboradas para (re)habilitar a capacidade de aprendizagem, habilidades atencionais, funções executivas (tomada de decisão, planejamento, raciocínio), dentre outras. Espera-se que, conforme o idoso execute essas atividades cognitivas, estas sejam aperfeiçoadas e generalizadas, ou seja, que os benefícios passem a ser observados na realização das atividades de vida diária. Imagina-se que a estimulação cognitiva a partir dessas ferramentas proporcione a construção de novas redes sinápticas. Dessa forma, o cérebro poderá estabelecer diferentes caminhos para transmitir informações ou, ainda, que o idoso possa aprender estratégias compensatórias para lidar com as suas dificuldades.”

Nesses casos as tecnologias virtuais, como a realidade virtual, videojogos ou estimulação transcraniana por corrente continua, atuam como mantedoras das fortalezas cognitivas que ainda existem nos idosos com demência.

 

Esta é justamente a área de atuação de Adriano Pasqualotti, especialista nas áreas de gerontologia, ciência da computação e estatística, com ênfase em envelhecimento humano.

Pasqualotti desenvolve na Universidade de Passo fundo um projeto de recuperação cognitiva com o uso de videogames, a Gameterapia.

 

Manter o cérebro em constante funcionamento é a opção mais adequada para se evitar as consequências do tempo. Quanto mais atividade articular e muscular, melhor as articulações dos músculos estarão para quem praticar esportes. Comparando com as capacidades do ponto de vista de funções mentais, cerebrais e cognitivas é a mesma coisa, quanto mais estímulos e atividades, sem ultrapassar o limite de cada, um melhor será.

 

O projeto de Gameterapia utiliza vídeo games para recuperar algumas dessas capacidades cognitivas afetadas pelo envelhecimento ou pela degeneração de doenças.

Adriano Pasqualotti explica como funciona:
Unknown Track - Unknown Artist
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Desde pequeno, Fabio Ota gostava de ouvir histórias contadas por pessoas mais velhas. Muitas das lições de vida que adquiriu foram passadas por meio das experiências de seus avôs, pais, tios e amigos. Nos dias de hoje, muitos deles já não conseguem se lembrar desses fatos. Ao pensar nisso e no seu ramo de atuação, o consultor e professor em estratégias de TI e gameficação, desenvolveu um projeto pioneiro para ensinar pessoas com mais de 50 anos a desenvolver games, e assim, prevenir o Alzheimer.

 

A doença é descrita pela ABRAZ (Associação Brasileira de Alzheimer) como uma demência ou perda de funções cognitivas – memória, orientação, atenção e linguagem – causada pela morte de células cerebrais.

A metodologia aplicada por Ota utiliza games 2D – como o tradicional Pong, Super Mário e Flappy Bird – para potencializar o raciocínio lógico e estratégico, o trabalho em equipe, o planejamento e a concentração. “As aulas são práticas e utilizam um sistema de aprendizado baseado em uma plataforma totalmente visual, o que facilita e agiliza o aprendizado”, explica.

 

A metodologia aplicada por Ota utiliza games 2D – como o tradicional Pong, Super Mário e Flappy Bird – para potencializar o raciocínio lógico e estratégico, o trabalho em equipe, o planejamento e a concentração. “As aulas são práticas e utilizam um sistema de aprendizado baseado em uma plataforma totalmente visual, o que facilita e agiliza o aprendizado”, explica.

 

De acordo com Pasqualotti, há uma indicação de que trabalhar as capacidades cognitivas repercute diretamente na proteção do Alzheimer. “Trazer esses aspectos para dentro de um ambiente que exige raciocínio, concentração e estratégias para a resolução de problemas, acaba potencializando a função neuropsicológica e cognitiva dos idosos”.

O projeto é desenvolvido por meio do programa UniversIDADE da UNICAMP e atrai alunos principalmente pela proposta de ensino tecnológica. “Iniciei o curso porque achei desafiador e tenho um certo bloqueio para aprender novas tecnologias”, comenta a aluna Angela Maria Dalaqua, de 57 anos. “Vi uma oportunidade para aprender algo a mais”.

 

Durante o ensino de uma tecnologia tão fora da realidade dessa geração, Ota leva em conta diversos fatores. “As dificuldades têm que ser crescentes e no início de toda aula, recapitulamos a aula anterior”. Os exercícios aplicados são pensados com base nos complexos apresentados pelos idosos, como a falta de prática e a falha. “Eles ainda têm muito medo de errar e ficam constrangidos com o erro”.

 No entanto, o professor explica que nesse processo, o erro é uma grande oportunidade de aprendizado.

 

Ota vê o método de ensino com potencial de crescimento, principalmente pelo aumento do uso de tecnologias no nosso dia a dia e da expectativa de vida. Angela aplica parte do que estuda em aula no seu cotidiano e pretende aprender mais sobre o desenvolvimento de games. “É muito importante a pessoa idosa continuar tendo o espírito de criação, de imaginação e de vencer desafios para alcançar patamares maiores”, declara.

O ensino lúdico como uma revolução ocasionada pela tecnologia. “Há 30 anos, Seymour Papert desenvolveu a linguagem LOGO e a aplicou em sala de aula, na geometria”, comenta. “Em um período em que não existiam meios tecnológicos ou lúdicos, a inserção dessa linguagem transformou a educação e aumentou a participação dos alunos em sala de aula. Da mesma maneira que a aplicação dos games faz com o ensino da programação para os idosos. O projeto é gratuito e o único pré-requisito é que os interessados tenham feito o curso de inclusão digital ou tenham pelo menos algum conhecimento básico de utilização do computador.

LOGO é uma linguagem de programação, isto é, um meio de comunicação entre o computador e a pessoa que irá usá-lo. A principal diferença entre LOGO e outras linguagens de programação está no fato de que foi desenvolvida para ser usada por crianças e para que as crianças possam, com ela, aprender outras coisas. A linguagem Logo vem embutida em uma filosofia da educação não diretiva, de inspiração piagetiana, em que a criança aprende explorando o seu ambiente - no caso, também criando "micro-ambientes" ou "micr’o-mundos" com regras que ela mesma impõe.

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