Da dificuldade à inspiração
Amanda Goulart
Há quatro anos, a teimosia, o nervosismo e a ansiedade do aposentado Moacir Martins, 88 anos, chamavam a atenção de sua família mais que o normal. As queixas sobre o comportamento do idoso se tornavam cada vez mais frequentes e em uma conversa informal com o médico, o assunto ganhou um tom mais sério, levando Moacir a uma tomografia que lhe daria um triste diagnóstico: o Alzhmeimer, uma doença incurável que causa a perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem).
Antes de ser diagnosticado com Alzheimer, Moacir já lidava com o mal de Parkinson, outra doença que afeta suas capacidades mentais e principalmente as físicas, dificultando sua locomoção. O diagnóstico do aposentado, a tradicional tomografia, surpreendeu a família e os amigos. Como diferenciar mudanças de humor de uma doença como o Alzheimer? essa foi a pergunta que mais incomodou a corretora de imóveis Mara Martins, a filha mais nova de Moacir.
“As vezes pareço lidar com outra pessoa, é tão triste. Penso em como seria se a doença fosse descoberta antes”, contou Mara, que achava os sintomas iniciais da doença atitudes consideradas normais para a idade de Moacir.
Apesar de provocar uma grande comoção a amigos e familiares, a doença foi a motivação de um grupo de estudantes de Ciências da Computação para a criação de um aplicativo para celular e tablets com a função de realizar testes cognitivos, que podem oferecer um pré diagnóstico de doenças neurológicas como o Alzheimer.
Mesmo com dificuldade em encontrar uma parceria que desse todo o suporte técnico sobre o reconhecimento das doenças, os estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC) não desistiram do projeto. A equipe inicialmente formada por Ingrid Rodrigues, Karen Maria Wolfart e Paulo Bertram, conseguiu uma parceria “sólida e confiável” com a professora doutora Mirna Portuguez e a doutoranda Sabine Marroni, do Instituto do Cérebro da PUC-RS.
Há três anos, o avô de Bertram, que tinha Alzheimer, morreu. A triste perda de um ente querido serviu de inspiração para criar o aplicativo.De acordo com Ingrid, a porta voz do grupo durante a entrevista, o objetivo era desenvolver um instrumento interativo e de fácil aplicação que auxiliasse no pré diagnóstico da doença. “Sabemos que a doença pode ser retardada, caso seja diagnosticada rapidamente, por isso o aplicativo é tão importante”, explicou Ingrid.
Com o intuito principal de identificar os primeiros sintomas de demência de um público-alvo com idade superior a 65 anos, o projeto possui um nome auto explicativo: “Teste Seu Cérebro”. A ideia do grupo rendeu dois aplicativos, sendo o primeiro Teste Seu Cérebro - Gerenciamento Financeiro que tem como base como o idoso gerencia suas finanças diárias e a capacidade de efetuar pequenos cálculos, e o Teste Seu Cérebro - Funções Cognitivas, baseado em testes que avaliam a capacidade de 10 funções cognitivas.
Os dois aplicativos apresentam o resultado no final do teste representado por cores. Assim como sinais do semáforo, o vermelho indica alto risco em apresentar quadros demenciais, o amarelo pede atenção - pois pode apresentar riscos -, e o verde mostra nenhum ou baixíssimo risco de quadros demenciais.
Segundo os dados do relatório de 2012 da OMS (Organização Mundial da Saúde), em pesquisa feita com a ADI (Associação Internacional de Doença de Alzheimer), estima-se haver cerca de 35,5 milhões de pessoas com demência no mundo.
Você sabia?
Segundo a Profa. Mirna, orientadora do estudo, os testes são feitos em sequência e se assemelham a jogos de computadores. “Atualmente, não há no mercado qualquer aplicativo se proponha a testar neste contexto o funcionamento do cérebro”, afirmou.
Apesar de ser desenvolvido para para idosos, os testes dos aplicativos devem ser acompanhados por profissionais da saúde e cuidadores.
Equipe de criação do Teste Seu Cérebro, no World Congress Brain Behavior, em Porto Alegre.
O teste já foi feito com cerca de 45 idosos. Motivados pela perda do avô de Bertram, os estudantes defenderam a criação do projeto acreditando que um pré diagnóstico tem papel essencial no tratamento. “As que afetam as capacidades dos idosos afetam não só a pessoa, mas também a família, o que é muito triste. Sabemos que o avanço dessas doenças pode ser retardados com os medicamentos, e é por isso que nossa ferramenta visa detectar dos primeiros sintomas, para que o idoso possa procurar tratamento o quanto antes”, explicou Ingrid.
Com testes de fácil entendimento, o Teste o Seu Cérebro avalia:
memória facial, percepção viso-espacial, memória visual, memória auditiva, reconhecimento auditivo, linguagem, orientação temporal e atenção.
O que o aplicativa avalia?
Onde conseguir o aplicativo?
Teste Seu Cérebro - Gerenciamento Financeiro está disponível gratuitamente na AppStore. Já o Teste Seu Cérebro - Funções Cognitivas, também disponível na loja de aplicativos, pode ser baixado por $ 4,99.
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